domingo, 23 de setembro de 2007

O sofrimento do sofrimento

Sou viciado. A droga? "sentir-se bem". Há algum tempo estou sem ela. Tenho tido crises de abstinência. Angústia enlouquecedora é o principal sintoma.

Não me sinto bem, logo, automaticamente me sinto mal? Ou será tudo culpa da abstinência: não me sinto bem, e quanto mais me preocupo com isso, pior me sinto... quanto pior me sinto, mais me preocupo com isso, e pior me sinto... então, quanto pior me sinto, mais me preocupo com isso, e pior me sinto... assim, quanto pior me sinto, mais me preocupo com isso, e pior me sinto... dessa forma, quanto pior me sinto, mais me preocupo com isso, e pior me sinto... por isso, quanto pior...?

Olha só isso. Eu deveria ter só um problema: o problema por causa do qual eu não me sinto bem. Mas, como se não bastasse, eu consegui criar outro: me preocupar por não me sentir bem. O primeiro, me deixa triste. O segundo, angustiado.

Mais ou menos assim: eu não tenho comida agora, mas isso não me afeta, porque não estou com fome. Esse "não ter comida" é o problema original. Além de não ter comida, eu estou preso em uma sala. Estando preso, eu não vou ter como conseguir comida quando precisar. Então, penso que vou sofrer no FUTURO, quando tiver fome. Isso me deixa angustiado. Sofro AGORA, por achar que vou sofrer no FUTURO. Entende? Sofro AGORA, mas não pelo problema original (não ter comida), já que ele não me afeta agora. Sofro AGORA, por achar que vou sofrer no FUTURO.

Moral da história? Problema pouco é bobagem. Sempre, sempre mesmo, conseguimos deixar pior o que já esta ruim. Quanta habilidade.

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