quinta-feira, 17 de agosto de 2006

Em nome da felicidade

O sentimento de felicidade é uma das coisas mais impermanentes na vida de uma pessoa. A maior parte da vida é vivida em um estado não feliz. Esse estado não feliz pode ser tanto tristeza quanto calma (ou paz). Tristeza e calma são os estados mais permanentes em que a vida é vivida.

Imagine que em um dado ponto da sua vida você está num estado não feliz. Então, por algum motivo, você passa para um estado feliz. Algum tempo depois que você começa a sentir que está muito feliz, esse sentimento de felicidade termina. Disso vem a frase "tudo o que é bom termina". Para tentar entender por que o sentimento de felicidade termina, é preciso entender por que ele surge.

O sentimento de felicidade parece ser "ligado" por mudanças. Quer dizer, em um dado momento você está vivendo num estado onde tudo parece normal, monótono, não tem nada de novo, tudo está "como sempre". Assim, você está num estado normal. Então, alguma coisa nova acontece na sua vida, e você gosta dessa coisa. Isso é uma mudança. A transição daquele antigo estado normal para esse novo estado "liga" o sentimento chamado felicidade. Dessa forma, você pode dizer: a felicidade surge a partir de mudanças.

Algum tempo depois que uma mudança aconteceu, naturalmente, ela deixa de ser uma mudança, se torna algo normal. Assim, não existe mais na sua vida alguma coisa nova. Você está de volta ao estado normal. A transição daquele antigo estado novo de volta para o estado normal "desliga" o sentimento de felicidade. A partir disso, pode-se concluir que não existe felicidade que possa ser permanente, porque não existe mudança que possa permanecer pra sempre como mudança: toda novidade vai sempre, mais cedo ou mais tarde, se tornar uma coisa normal; toda felicidade vai sempre, mais cedo ou mais tarde, terminar.

Felicidade é como uma droga na qual você é viciado: o tempo todo você quer tê-la, você está sempre fazendo de tudo pra consegui-la de algum jeito. Quando você consegue, você tem algum prazer por um certo período de tempo, depois do qual esse prazer termina. Imediatamente, você começa a querer mais, começa a tentar conseguir novamente, e o ciclo recomeça. Pra sempre.

Como todo viciado, algumas vezes o objetivo de conseguir a droga se torna mais importante do que os meios usados para isso. Pra comprar cocaína, algumas pessoas roubam dinheiro de outras. Pra conseguir a droga chamada felicidade, algumas pessoas se esquecem de princípios morais e de caráter, e passam por cima dos sentimentos de outras pessoas. Tais pessoas são escravas dos próprios egos. A palavra egoísta vem da palavra ego.

Pessoas egoístas têm a ilusão de que é possível viver num estado de felicidade permanente. Elas têm a ilusão de que existe alguma coisa que elas possam fazer que vai levá-las a um estado de felicidade permanente. Deve ser por isso que quando elas se deparam com alguma coisa que elas imaginam que vá levá-las àquela grande felicidade, elas fazem qualquer coisa para chegar lá. Elas devem pensar "descobri como ter felicidade permanente, descobri, eu tenho que conseguir isso agora, eu não tenho o direito de não conseguir isso agora que eu descobri como". Ilusões. Deve ser isso que faz certos homens abandornarem a esposa e os filhos pra viver com alguma menininha de 18 anos.

A cada tentativa, aquelas pessoas se dão conta de que não conseguiram a tão sonhada felicidade permanente. Se dão conta de que, de novo, não passou de uma ilusão. Ficaram tão felizes por terem encontrado o caminho da felicidade permanente, e agora ficam tão tristes por verem que não foi bem assim. E continuam inconformados até o dia em que novamente acreditam ter encontrado o caminho. Ficam loucos novamente: "Vou ser feliz!". Fazem tudo igualzinho novamente. De novo, ilusões. E assim, pra sempre. Escravos da loucura, das ilusões.


Escravos, porque estão sempre fazendo eles mesmos, e quem mais for necessário, sofrer. E pra quê? Tudo em nome de uma coisa que nem eles, nem ninguém, vão ser capazes de conseguir: felicidade permanente. O pote no fim do arco-íris.