domingo, 29 de junho de 2008

Das vontades, da moral e dos cornos

O comportamento de um ser humano é determinado por suas vontades, por sua ética e pelos valores morais do meio onde vive. Isso pode ficar mais claro observando-se dois extremos. Uma pessoa cuja ética é obedecer a todas as suas vontades tem seu comportamento determinado por suas vontades. Por outro lado, uma pessoa cuja ética é obedecer a todos os valores morais da sociedade onde vive tem seu comportamento determinado pelas regras sociais.

Tudo bem. E daí? Conversei com uma pessoa casada, que trai seu cônjuge. Lhe perguntei: "por que você faz isso?". A resposta, em resumo: "gosto do meu cônjuge, mas sexualmente falando, não nos damos tão bem quanto eu necessito". E continuou: "só faço o que muita gente tem vontade de fazer mas não ousa".

Onde eu quero chegar? A pessoa em questão tem um conflito: quer manter o casamento pois gosta do cônjuge, mas ao mesmo tempo necessita de uma vida sexual mais satisfatória. Ela está certa ou errada em fazer o que faz? Baseado em que você acha isso?

A vontade de uma pessoa é só a vontade de uma pessoa. Ela simplesmente existe, tem existência própria. É independente de quaisquer regras morais. Não é possível dizer: "nossa, mas aquela pessoa não pode ter tal vontade, não pode". Não interessa o que você pense disso: ela tem a vontade, a vontade existe, ponto. Ninguém tem o poder de controlar as vontades que outra pessoa sente.

Um relacionamento entre duas pessoas só é estável quando as vontades das partes concordam com as regras sociais segundo as quais elas vivem. Por exemplo: se as regras sociais determinam que cônjuges não podem manter relações sexuais com terceiros, o relacionamento entre eles será estável (inabalável) se ambos não tiverem vontade de manter relações sexuais com terceiros.

Portanto, as vontades e as regras morais determinam a estabilidade de um relacionamento entre duas pessoas. Quanto mais as vontades discordarem das regras sociais (morais) que regem o relacionamento, menos estável ele será. Por quê? Porque as vontades podem acarretar no descumprimento das regras, acarretando no rompimento do relacionamento. Ou, o cumprimento das regras em detrimento das vontades pode fazer com que o relacionamento deixe de ser interessante para as partes, acarretando em seu rompimento.

Finalmente, o que eu gostaria de concluir: as vontades produzem os relacionamentos estáveis, verdadeiros, legítimos; as regras morais mantêm os relacionamentos que perderam a estabilidade, não são mais verdadeiros, não têm mais legitimidade.

Se a pessoa com quem conversei tivesse suas necessidades sexuais satisfeitas pelo cônjuge, o relacionamento seria estável e não estaria sujeito ao rompimento que poderá se dar caso o cônjuge descubra o que a tal pessoa tem feito para satisfazer às suas vontades.

Moral da história: será que não seria mais eficiente que esses cornos(as) mantivessem seus relacionamentos naturalmente (baseado nas vontades) ao invés de artificialmente (baseado nas regras morais)?

Tudo bem que o corno é sempre o último a saber. Mas depois de ficar sabendo, a reação automática é sempre invocar as regras morais para justificar seu descontentamento diante do novo par de ornamentos que enfeita sua testa. É muito fácil fazer isso. Apontar o descumprimento das regras morais pela outra parte. Culpar exclusivamente a outra parte.

Difícil mesmo é olhar para si mesmo e enxergar qual foi sua real contribuição para que seu relacionamento se tornasse algo artificial. Difícil é responsabilizar também a si mesmo.

(vale observar que tudo isso se aplica a qualquer tipo de relacionamento entre duas pessoas, tal qual entre pais e filhos, por exemplo... quantas vezes você já ouviu que um filho deve amar seu pai e sua mãe exclusivamente pelo fato de serem seu pai e sua mãe, ignorando que além de pais e filhos são todos seres humanos que podem ou não se dar bem?)

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